sexta-feira, 3 de maio de 2013

A Encruzilhada

Chegamos finalmente naquela encruzilhada, algumas horas atrasados, pela lua perto da meia noite... Nada nos acompanhava além da luz das estrelas e lanternas, e que lua, nunca vi tão linda e tão redonda, basicamente iluminava o caminho a nossa frente sem  auxílio de nossas fracas luzes...

Aproveitamos o ponto conhecido para respirar antes de seguir até a caverna mais ao norte onde poderíamos dormir tranquilamente.  Nossas pernas latejavam de tantos quilômetros andados em ritmo forte, porém ineficiente.  As mochilas é obvio que nem pesavam mais seus 20 quilos originais, porém já faziam parte de nossos corpos.  Sentados na encruzilhada ouvíamos o som do rio ao longe e um estranho cheiro de tabaco permeava o ar... Logo levantamos.

Iniciamos novamente a caminhada, como meu  TOC manda, nos primeiros 20 passos abri minha bússola para conferir o que já sabia, porém  sua seta não parava, rodava sem destino ou posição enquanto o cheiro de tabaco aumentava.  Confesso que aquele caminho tão familiar durante o dia era muito mais estranho pela madrugada.  Então parei, senti que algo me congelou e não era o vento gelado dos montes a essa época do ano, respirava fundo enquanto ouvia os passos de meus amigos pararem também... O erro de olhar para trás foi inevitável e no meio de uma fumaça de tabaco, vinda de um grande charuto surgia uma figura, capa e cartolas pretas, com detalhes em vermelho e uma camisa branca e de babados...  A voz era suave porém aterradora e eu não sabia como responde-lo a sua simples indagação: "Boa Noite?  Passar pela minha  encruzilhada a essa hora requer coragem que poucos tem, achar o caminho necessita equilíbrio e o destino tem de ser a paz.". Meu sangue quase parava a cada uma de suas palavras, reuni forças e apenas disse que precisávamos chegar a caverna para descansar.

A figura vinha se aproximando, andando lentamente como quem calcula cada passo de olhos fechados, por não precisar ver o caminho. Respondeu-me tirando o charuto da boca e puxando uma longa bengala das costas "O caminho é simples neste caso e posso lhe mostrar sem dificuldade, pois certamente sozinhos não chegarão lá, lhes peço apenas um pouco da cachaça que vós trazeis...".

Me virei e respondi apenas pelo medo que me tomava e corri, corri sem ver para onde, corri como se minha vida dependesse disso em direção ao  barulho do rio.  Ouvia outros paços mas nem pensava em descobrir de quem eram, não sei se abandonei, fui abandonado ou seguido por meus amigos, apenas sei que segui para um canto.  O cheiro do tabaco se intensificava e eu nem via mais em que pedra pisava, até que acordei na caverna... cabeça enfaixada, sem minha cachaça mineira, cheirando a cavalo e desnorteado.  Meus amigos chegaram pela manhã, tranquilos e mais limpos que quando os deixei.