É curioso perceber quando
estamos errados. Iniciei minhas
pesquisas para a monografia acreditando que apesar de todos os delírios
golpistas, seriamos uma republica já
matura o suficiente para não cair novamente nos mesmos erros. Escrevi
em meu blog sobre isto (O Desafio da democracia 10/14) em um momento que inclusive apontei que
estes próximos anos seriam decisivos para sabermos o nosso real nível de
comprometimento democrático.
Faltou-me
análise histórica. São 127 anos de república, 4 grandes golpes, matematicamente
o ponto zero estava chegando. Não percebi.
Cheguei a apostar ao longo da pesquisa monográfica que o maior desafio a
ser sepultado era o senso comum. Ledo
engano, infeliz discriminação sofista. É
verdade que Stuka me avisou e Bonavides me lembrou, mas eu –soberbamente – ignorei. Ignorei que a natureza da construção do
Estado, braço armado da elite dominante, ignorei as lições sobre os rastros de
todos os golpes desencadeados no Brasil, o uso da instabilidade, do discurso
contra a corrupção e inclusive a mudança de regime para que no fundo não se
mude a ordem econômica e a estrutura de poder sedimentada ao longo dos séculos.
Rui
Barbosa alertou sobre a necessidade do império das leis. Mas não percebi que o
civilismo barboseano não era mero opositor das espadas, como as aulas de
história nos fazem crer, o civilismo era uma resposta a cultura da opressão necessária para a legitimação da
vontade do Estado/soberano.
Este não e um golpe isolado na
história do Brasil e se for derrotado não poderá ser encarado como o último de
nossa jovem república. Este é apenas mais um capítulo da consolidação da
cultura dos Golpes. Trás,
inevitavelmente, um déficit incalculável ao projeto de unidade de nação, iniciado
pela coalizão do proletariado e da burguesia nacional com o primeiro Governo
Lula, voltando a escancarar as divergências entre as classes antagônicas e seus
distintos projetos de poder.
Efetivamente este passo já era esperado, mas não como rompimento da ordem
democrática, quem tem como consequência direta a recombustão das desconfianças
entre as classes, dando ao Brasil de 2016 um ar de Venezuela 1998.
Por tanto, meu foco estava errado, as dificuldades para a
consolidação da democracia brasileira não moram nos conceitos jurídicos de
legalidade, liberdade de expressão, participação popular, tolerância,
positivismo ou naturalismo. Me parece cristalino que a maior dificuldade está
no entendimento do que é democracia, seus ônus e bônus e principalmente na
construção da ideologia de Poder para o povo brasileiro e suas elites. Pode parecer até tupiniquim o que vou dizer, ufânico demais, mas é mas uma questão de Chauí do que Dahl.