domingo, 18 de novembro de 2012

Confissões da identidade que perdi.

Não sei qual é o gosto do tucumã...
Nunca passei no ver-o-peso para comer pupunha em uma manhã.
Não aprendi a dançar carimbó, nem siriá....
e a guitarrada eu só sei de longe identificar....
Lembro do sabor da água do tapajós na minha pele
mas nunca estive em um sairé....
Sinto falta de alter, mas não lembro como Salinas é...
Lembro de tantas músicas, ritmos e poesias
Rui Barata, Mestre Isoca e Nilson, me levam por um mundo que não sei mais do que rimas....

Não conheço o calor do frevo
e nunca vi os coqueirais de Olinda, não senti seu carnaval...
Do Baião de Gonzaga sei cada letra menos a fundamental...
talvez nada me ligue com o que escrevo.

Nunca subi o morro para ir na batida até o amanhã,
nem amanheci no arpoador...
não vi a mangueira rufar seu tambor
nem meu Flamengo campeão em pleno Maracanã.

Não sei o prazer da uma boa montaria por um caminho tropeiro,
Não ouvi o canto gauchesco e brasileiro,
pois esta terra eu não amei desde guri....

Agora, o arame é minha casa
mas o que tenho haver com a cidade que não me da asas?
Não seria hora de saber quem eu sou?
descobrir o calor das manhãs e das manhãs,
pois os das massas e maçãs eu conheço, mesmo sem saber onde vou...

Não sou mal, nem bom...
apenas sou o que me fez resistir
sou o que me fez sorrir
sou o que sobreviveu a cada noite de frio
eu sigo sendo sem ser o que o que sou.
apenas sustentando o meu próprio brio..
apenas me orgulhando do que fiz quando até quem eu mais acreditava duvidou.

Preciso me libertar, preciso me encontrar...
não aguento mais a angustia de viver sem identidade...
sem saber qual meu porto, meu cais...
preciso saciar essa vontade..
Afinal eu só quero paz...

3 comentários:

  1. Parabéns filho, pelo belo desabafo existencial.

    Como a vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro, olhe para o horizonte e veja o belo trem azul sobre os trilhos do desejo humano, que por ser mutante nos conduz às estações íntimas de nossa singularidade cultural.

    Umas das belas características suas é a sua honestidade.

    Eu te amo.
    Papai

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  2. Como bem descreveu você na teoria de como nascem os troskos, os mesmos fatos ganham conotação completamente diferente dependendo do ponto de vista. Lendo o texto fico pensando no acúmulo necessário pra descrever com tanta propriedade as vicissitudes deste imenso Brasil.

    Quem disse que você não tem identidade? Tem a segunda melhor delas ( pq a primeira melhor é a de pernambucano) que é a identidade multicultural. Raízes no norte, pés no mundo e a mente que consegue estar em qualquer lugar graças às experiências já vividas.

    Brinda a beleza de ser andarilho! " Minha vida é andar por esse país pra ver se um dia eu descanso feliz, guardando a recordação das terras onde passei"

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  3. Eu disse que não iria comentar esse aqui, mas não resisti, só porque não concordo com isso de você achar que não tem identidade.
    Sobre isso, eu apenas vou repetir uma frase que você me disse um tempo atrás, não sei se você lembra, mas guardei para mim porque achei o conceito tão bonito.
    Você disse que o lugar da gente é onde está o sorriso das pessoas que amamos.
    Eu, pelo menos, acho um bom porto, Senhor Daniel, um bom cais =D
    Sei que não estou falando especificamente do texto, que achei lindo e muito bom como tudo que você escreve... mas sobre esse sentimento de achar que não tem identidade, eu só posso contar uma história de um certo garoto que conheci no curso de inglês, e que logo reconheci como o meu igual, não porque ele tinha as mesmas ideias comunistas que eu e também não era porque ele tinha nascido no mesmo Estado.
    Como vou explicar?! Sabe aquelas raras pessoas que quando falam sobre seus ideais e suas vontades os olhos brilham, aqueles que costumamos chamar de sonhadores, esse é você, pelo menos o Dan que eu conheço, o mesmo Dan que anos depois disse para eu seguir meus sonhos e que eu poderia fazer tudo que quisesse. (Olha o que deu, uma maluca que despencou do Norte para Sul, culpa tua Rsrrs ...brincadeira =D)

    Se isso é uma pessoa sem identidade, então eu desconheço o significado de identidade.
    Sua identidade, seu lar é essa sua personalidade forte, é essa convicção que fazem seus olhos brilharem, são seus lindos sonhos, querido.
    Depois você pode misturar uma farinha tapioca, um açaí...ao som do Nilson Chaves... é paraense mesmo.

    Escrevi um textão aqui, me empolguei. =D

    Última coisa:
    Gosto muito de te ver caminhando sobre o sol ^^

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