quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Amor de terreiro.

Que é você que dança, que roda e que canta nessa gira?  Não lembro de te ver por aqui... doce mistério. Enfim esse terreiro anda tão movimentado que mal reconheço os velhos rostos.

Mas para meu desespero a cada sexta a noite você está lá, com seu sorriso de Ere próximo a nosso congá.  Como de costume, ao final de toda gira, encontrar os amigos no bar e advinha quem está lá?
Assim fica difícil quando você me olha e me enquadra em um doce requebrado

Vamos ao samba sambá. Vamos ao samba cantar.
Vamos ao samba colorir a noite com as cores dos orixás.

Por que você segue com esse olhar fixo, quase me fazendo parar de batucar.  Me deixando com esse nó na garganta, afinal quem é você que não me deixa nem mais sonhar?

Nova semana, tanto tempo dessa aflição e porque ninguém sabe nem te identificar?
Morena-doce dos cabelos cacheados e do cheiro de chocolate.  Preciso ao menos saber quem é você, por que você só aparece quando o atabaque bate forte?

Sou filho de Oxossi, por que afinal eu deveria me importar?  Enfim, essa noite isso vai acabar...  Não tirei o olho de ti, não deixei você fugir e quando saiu, fui atrás de teus passos.  Levado pelo som de teu cheiro até atrás da nossa grande tenda, de boca a floresta, afinal cadê você?  Olho para todos os lados e não a vejo, vou Mata a dentro e aqui sinto o vento forte, sinto a água que sobe e sua sobra no luar finalmente, não tão distante quanto eu poderia imaginar.  Firmo o passo, chamo sua atenção, digo que é perigoso onde estás, mas nenhum músculo de seu corpo se move, até que ao chegar mais perto, sinto o frio imenso vindo de sua pele e então nossos olhos se veem finalmente... São mais lindos que eu podia imaginar.

Em plena mata começamos a dançar ao som das folhas que são sopradas pelos ventos, o batuque do terreiro parece estar mais perto, e de passo em passo, vamos girando juntos até a beira do rio.  Sinto coo se fossemos apenas um corpo, a dança é natural, sensação que eu, Ogam, nunca havia sentido...  Agora que estou entregue e seus braços e você nos meus, lhe giro e tres passos e sem deixar o pé encostar no rio de mamãe Oxum lhe chamo ao primeiro beijo.  Porem antes de nossas peles se tocarem o atabaque para, os ventos cessam, as folhas caem e a luz te tira de meus braços, caio nas águas, respiro e te sinto longe, e apenas ouço sua voz e um cântico lindo por sobre as águas, por baixo dos ventos.

Não sei o que houve,  se fora verdade, se fora um chamado dos orixás, ou a pomba se divertindo com meu coração.  Sei que a cerveja não tem mais o gosto da liberdade e os risos não parecem mais sinceros... Meus amigos falam que me encontraram sobre uma pedra atrás do congá, mas não era lá que eu estava... Cheirava a boi e surgi depois de dois dias sumido.  Desde então nunca mais vi a Morena que só eu via.  Mas continuarei a sua busca, pois sei que estas por ai, em uma roda de samba ou em uma gira distante.  Ou talvez fique aqui, esperando sua volta... Talvez.

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